Temos vivido um momento muito delicado no que se refere a encarar os “não” que a vida nos impõe. Cada dia uma notícia mais terrível que a outra e sempre tendo como mote principal a incapacidade de aceitar uma negação, seja de quem for.
Filha mata os pais porque eles não aprovam seu namoro.
Namorado mata namorada porque ela não quer mais continuar a relação. Namorada mata namorado porque descobre uma traição.
Mãe mata filhos porque o marido a abandonou. Neto mata avó porque ela não queria que ele fizesse barulho.
Um número assustador de pessoas que simplesmente decidem acabar com a vida do outro e, tantas vezes, com a própria vida porque as coisas não aconteceram exatamente como elas previam ou gostariam.O que é isso?!? Onde é que vamos parar?
Será mesmo que não existe outra maneira de lidar com tudo isso? Eu sei que o mundo exige cada vez mais de nós, que o fracasso faz com que nos sintamos fora de uma competição acirrada e de um objetivo insano de ser feliz e ter sucesso a qualquer preço, mas ‘peraí’… está na hora de avaliarmos outras possibilidades mais criativas para o que é inevitável: a frustração!
Todos nós, indiscutivelmente, independente de classe social, situação financeira, origem, cultura ou raça, temos de lidar com os fracassos, as perdas e as dores decorrentes do exercício de viver.
Portanto, há de haver uma conseqüência nobre de tudo isso: aprendizado, amadurecimento, crescimento interior, enfim, auto-superação! Antigamente, perdia-se um amor e isso se tornava inspiração para lindos poemas, músicas inesquecíveis ou atos belíssimos na tentativa de reconquistar a pessoa amada, tais como uma serenata ao pé da janela, uma declaração de amor em público ou o envio de dúzias e dúzias de rosas. Hoje, perde-se um amor e tudo vira uma tragédia insana e sem sentido. Antigamente, recebiam-se proibições dos pais e isso se tornava uma fuga de casa por uma noite, uma carta malcriada ou até um motivo para lutar por causas maiores.
Hoje, recebem-se ordens dos pais e isso se torna razão para destruí-los, massacrá-los e feri-los.Onde está nossa sensibilidade? Onde está nossa motivação para transformar limites em novos horizontes? Onde está a noção do que seja compreensão, aceitação e fé? Eu desejo, sim, que você e eu continuemos nos frustrando, até porque não há outro modo de evoluir; mas desejo, sobretudo, de todo meu coração, que consigamos lidar com nossas dificuldades de um modo mais humano e criativo. Esmurremos o travesseiro, fechemos a porta do quarto e choremos a noite inteira, martelemos 118 pregos num pedaço de madeira, sem parar, até esgotarmos toda nossa energia raivosa, mas pelo amor de Deus, não destruamos uma vida, não acabemos com o que é sagrado, não desperdicemos a oportunidade de ser gente e agirmos como tal.
E assim, de frustração em frustração, quem sabe possamos perceber que não há nada mais fantástico e sublime do que a arte de aprender a transformar um “não” em mais uma chance de vencer e ser feliz…